sábado, 23 de maio de 2009

Um detalhe já é certo, tenho que escrever para um dia escrever melhor. E como polaco introvertido, metido a falar de teatro e pesquisador do teatro polaco na Antropologia da UFPR. Sem dinheiro, mas feliz por estar pesquisando e escrevendo e principalmente metendo o pau neste governo dos maus tratos com o povo, e desta cultura enraizada com o poder superficial e falta de talentos.



Como descendente de polaco me vejo forçado a falar da peça “Semo Polaco Num Semo fraco” do diretor Jester Furtado do interior do Paraná, da cidade de Araucária. Falando em interior, porque alguém tem que representar o interior do Paraná no Festival de Curitiba.


Boas lembranças de uma secretaria da cultura do Paraná que não fez nada além do que deixar tudo como sempre esteve. Um abandono total na cultura do estado, enquanto outros estados têm suas leis de incentivo e os artistas produzem diante de um universo que mesmo sendo incentivado sobrevive a duras custas.

Pesquisei alguns governadores do Paraná para lembrar o nome de uma secretária de cultura, que era médica e de Londrina. Porque Londrina podia levantar a bandeira da interiorização do Paraná, motivando a produção e a qualidade cultural do estado. Mas, ela fez tão pouco que nem existe mais o nome dela em lugar nenhum.
Secretaria da Cultura do Paraná deveria ser extinta. Trabalha tão pouco que caberia em qualquer pasta. Basta ver o resultado da participação do interior em atividades culturais. Vejo pelo festival de Curitiba, que tem participação do Brasil inteiro e no geral de cidades que não são as metrópoles. E as cidades do Paraná?

Pelo menos temos um representante da cidade do interior que é Araucária, que sempre esteve ativo nas atividades culturais, fruto da imigração polonesa que sempre teve o teatro como um bem nacional. A peça teatral no estilo “Semo Polaco Num Semo Fraco” prioriza alguns arquétipos do cotidiano ingênuo do trabalhador tradicional da região próximo a Curitiba. E os atores buscaram uma pesquisa daquilo que é comum nos trejeitos livres e bem delineado dos polacos. Uma pesquisa que causa inveja e vontade de arrumar para que ela seja um pouco melhor, tirando os excessos que não tem nada haver com o trabalho. Manter sempre os mesmos atores com as características e deixar de fora os enchimentos para alongar a peça. Trabalhar a sonoplastia e a trilha regional e deixar o ator se esbaldar, porque ele consegue fazer bem o papel.

“Semo Polaco Num Semo Fraco” poderia se tornar a principal obra de arte de Jester Furtado que pecou no excesso. Uma obra que não é destas peças lambuzadas de teatros cariocas globais que vem a Curitiba e o contrário não acontece. De uma mídia convencida com o release do que vai ser dito e de um público burro dentro de uma supercialidade Foucaultniana no Teatro Guaira, de algo que era para ser bom mas não sabem onde esta a qualidade. Daqueles que dizem que não assistem as novelinhas. Mas pagam para ver um ator só para hierarquizar um poder de quem pode pagar para ver o atorzinho da novela, como foi na peça “Calígula” de Camus, e do Thiago não sei das quantas no Festival de Curitiba, no Teatro Guaira. Que por falar em Guaira, tem um espetáculo do sertanejo ator global Daniel.

O diretor Jester Furtado é um diretor visionário com peças bem elaboradas e com uma equipe fiel, que transita entre um festival a outro. Transita no sentido de que um festival acerta tudo e no outro complica. Como foi o ano passado com espetáculos dignos de aplausos e a peça do lixo, neste, numa forma assistencialista, que é bem próprio para agradar políticos e um público cansado de demagogias. Políticos que não sabem como é uma cadeira de teatro, porque nunca vi um deles prestigiando. A não ser submeter o artista a leis que privilegiam uns diante de uma demanda insuficiente para a dignidade dos artistas. Basta ver editais com dois mil artistas participando para aprovar uns dez artistas, e ainda suspeito por ter um poder de influência nas escolhas. São estas razões que fazem do Brasil um estado pobre de cultura e de uma superficialidade nauseante.

O pior é quando o estado não tem nem lei para dar alguma dignidade para os artistas como o Paraná. Que por alguma razão mantem uma produção quantitativa e menos qualitativa por se submeter a esta falta de sensibilidade política com seus artistas.

Chega dos lambuzados e vamos olhar para os nossos artistas, porque eles não olham para nós. E quando estão na estrada de volta para casa, voltam tomando champanhe com a glória conquistada por aqui. E os nossos, não merecem?