Peça do Obragem
As vezes a gente se surpreende quando acha que ninguém esta vendo e ninguém vai falar nada ou fingem não estarem vendo. E de repente de onde menos se espera acontece a surpresa.
A gazeta do povo do caderno G do dia 30 de Dezembro de 2009, faz algumas referências sobre uns espetáculos pratas da casa.
Até ai tudo bem, a costumeira puxação de saco. Só que de repente a jornalista Luciana Romagnolli finaliza seu artigo com o um comentário inusitado: "O Inventário de Nada Benjamin, da Cia Obragem, foi pouco vista, talvez pela dispersão das plateias geradas pela epidemia de gripe".

Foi um pouco generosa com a crítica, sendo que a epidemia foi em épocas quase diferenciadas, só unindo por uma fração de tempo. E o "talvez pela dispersão das plateias" tem algo de humor em evidência. E não é porque a Aids existiu que as pessoas deixaram de fazer sexo. Porque tem algumas mulheres que valem um caixão.
O que é uma pena porque um grupo que tem uma estrutura de captação dos recursos de incentivo tinha de ter um respaldo de público para justificar a sua produção. Mas, isto já é outras muletas. Levando em conta que é o resultado artístico que interessa, e não é porque esta sendo bancado pelo governo que tem de se submeter a ele.
Cheguei a ir na peça e não assisti. Isto porque ele se enquadra no atual sistema dos grupos nos procedimentos de captações de recursos do governo que transfere sua bilheteria para os pobres, através da troca do ingresso por uma lata de leite.
Tenho até uma história engraçada com este critério das latas de leite para garantir a manutenção e procriação de criancinhas que precisam ser amamentadas. Com uma mãe que ficava na porta de uma farmácia pedindo uma lata para seu filho nos seus braços. E fui um dos sorteados tendo contribuído sem perceber nada de errado. E ela com a conivência dos farmacêuticos que estavam lucrando com aquela mãe que fazia teatro muito melhor do que muitas atrizes por aí.
Mas no caso da peça não foi possível contribuir com a lata de leite, isto porque não consegui achar um local onde pudesse comprar uma lata naquelas horas em inicio de noite. E infelizmente nem pude conferir o resultado destes artistas, que por alguma razão na disposição jornalística não houve uma crítica de resultados. Talvez deve ser porque estavam preocupados em fazer matérias sobre a epidemia de gripe. Ou talvez porque o jornalista tem que se preocupar com as causas assistencialista em épocas de um governo da pobreza. Que antes de assistir uma peça deve se preocupar com a comida dos pobres. E infelizmente muitas mães vão ficar sem fazer o mingal de leite em pó para seus filhos se depender das ditas peças do pó de leite, porque o público não compareceu.
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