domingo, 28 de novembro de 2010

Jean-Luc Lagarce na Chuva.



Estava na minha casa e esperava que a chuva viesse. Quer dizer, não foi bem assim. Era um calor dos infernos e estava a caminho do “Estava em Minha Casa e Esperava que a Chuva Viesse” no suntuoso prédio novo da Fap Pr. Agitado nas vinte horas e trinta minutos e ainda não tinha localizado o suntuoso. Foi uma bela impressão onde se farão belos espetáculos, principalmente, neste momento de expectativas de tudo novo e espaço virgem. Nada como algo virgem para se fazer história.

E para minha estréia não poderia ser melhor com “Estava na Minha Casa e Esperava que a Chuva Viesse” do tão aplaudido Jean-Luc Lagarce.


Tenho até medo de falar com a possibilidade de influenciar no repertório do espaço. Sair de casa num sábado em Curitiba e ter como opção uma peça de um dramaturgo da França talvez seja o sonho de muitos injuriados por estarem em locais adversos. E como um curitibano nato destes que só sabem falar mal e não sendo destes que vão e não entendem nada e ainda ficam de pé gesticulando suas mãos num fisiologismo, coisa que também faço por me sentir coagido, me sinto na obrigação de delinear algumas palavras contrárias da massa.

Foi uma introdução na soleira da porta com a atriz Lilyan de Souza que ruminava sobre o tempo e o tempo que lá fora ventava e tinha um ar de chuva, mesmo fazendo aquele calor dos infernos. Os lábios gesticulavam em gestos pequenos e bem expressivos numa colocação exata do olhar. E assim as portas do teatro se abriram e tudo começou a mudar com um efeito barato de alguém sentado que nunca se levanta, e por um segundo tenta se levantar com uma direção pouco perspicaz. Lembrei da “Gaivóta” de Tcheckov e pensei que deveria ser assim sendo que nunca assisti a esta peça encenada na minha cabeça. As dramaturgias ainda se confrontam e se percebe que o velho diante de uma contemporaneidade não ganha forma. Criticam Aristóteles e não percebem que a fenomenologia é um avanço se resolvendo tudo no real de forma muito mais próxima do entendimento do público. Não é desestruturar um texto na vaidade de autores e diretores que colocam o que bem entende, e atores na importância da atuação no palco menosprezando o resto. Falando de forma simples, o espetáculo é um objeto que tudo está intrínseco nele com a presença do público vivenciando na sua plena convulsão de um absoluto a la Bergson. É simples e lindo este pensamento metafísico. A maioria dos diretores deveriam pegar suas picaretas e ir cavar buraco nas ruas. Inverteram tudo e empobreceram o teatro.

Foi uma agradável descoberta do teatro Francês percebendo que eles fazem teatro. Até então tinha a noção do Jean-Jacques Rousseau que criticava o teatro francês com a idéia de que teatro não era bem administrável na língua francesa. E assim deu para perceber como deve ser uma dramaturgia a francesa. Um espetáculo sendo feito na língua francesa seria muito melhor do que neste ruído português. A parte principal desta montagem deveria ser a articulação das palavras e com um intenso trabalho de sonoplastia para neutralizar o efeito destrutivo do simbólico e feio português. Não esquecendo aqui um ator com seus gestos e olhares complementando a palavra, embora, a palavra no contexto geral tem a peculiaridade de ser muito menos que o gesto. Neste caso, deste espetáculo, se torna uma exceção.

Voltando a dramaturgia influenciado pelas querelas teatrais dos filósofos do século das luzes é possível pensar numa renovação constante impregnado de revolução, próprio da revolução francesa que no Brasil não existe e nunca existiu. Um bom exemplo foi Diderot que queria um teatro mais ativo de entendimento, que volta a ser a argumentação anterior que utilizei.

De certa forma a peça foi um grande monólogo com o eixo dela sentada e sussurros ladeando. Só um momento o sempre usado escalar de um grande muro bem a cara dos espetáculos de dança onde os atores querem escalar paredes por perceber o quão pequeno somos na nossa construção. Esta escala pode ser a necessidade de se chegar a deus ou a fuga deste mundo para o outro lado do muro. Agora me lembrou o conto "O Muro" do Sartre que não deve ter nada haver e se tem não vou parar para pensar nisto porque me deu preguiça de pensar. Mas, eu penso e montem sempre estes espetáculos porque meu sábado a noite foi ótimo, ou ótima. Sei lá, dane-se a língua portuguesa. Não vi um grande problema dramático e ainda gosto dos efeitos trágicos nos textos teatrais. Acho que escrevo melhor. O que seria do teatro sem as tragédias?


Faço a correção depois do texto. 


carlos jansson