domingo, 9 de dezembro de 2012

Mostra de Dramaturgia Sesi Teatro Guaíra





O mundo dá suas voltas e algumas coisas que poderiam mudar estão sobre o leito de uma pequena centelha de genialidade ou um esbarrão para que se torne um pouco melhor, ou pior.

Bertrand Russell foi um destes que sua presença incomodou. Mas sem ele aquilo que incomodou não apareceria com muita facilidade como o fato de Friedrich Frege ter parado de produzir com a mesma dinâmica após uma carta de Russell. Ou de Wittegenstein ter reclamado de uma introdução feita por Russell no seu livro. Nem tudo é feito numa ordem, o caos também faz parte.

Ontem por equivoco assisti uma trabalho teatral que se chama "Parido" da "Mostra de Dramaturgia Sesi Teatro Guaíra", numa vertente que se coloca como o teatro contemporâneo e o teatro do transumano que o esbelto vestido vermelho da Luciana Eastwood Romagnolli confirma na sua crítica ao texto "Nome Próprio" da Nana Rodrigues. Transumano é um nome bonito e glamouroso para dar a um teatro com palavras da Luciana. Mas, contemporâneo como um comentário que vi de um ator já é um valor de verdade falso.

Depois de ter assistido a peça é que fui saber que não estava assistindo a peça "Um Rosto que Espreme" que ficaria mais apropriado como "Uma Cabeça que Espreme" diante da ótica da mente. Eu assisti o "Parido" com uma sinopse que não tem nada haver com que meus pensamentos abstraíram. Como é uma peça de língua privada, já que tenho de me identificar pela minha proposta do olhar, nem me dei ao trabalho de absorver algum tipo de linearidade das palavras. Até percebi que tinha algo de rimas. De certa forma se percebe a ditadura da linguagem nesta pequena alteridade de posicionamento, como Barthes colocava. E o poder do discurso não se encerra aí. Se era para alcançar uma episteme, ficou difícil.
Uma sinopse num folheto bem produzida com logomarcas do Sesi, Teatro Guaíra, Governo do Paraná, British coucil que deve ser de uma língua anglo saxã, e a Lumem Fm. Que olhando de forma superficial chego a conclusão que o Roberto Alvim deve ter uma remuneração adequada para tal evento, acreditando ser ele o mentor. Uma sinopse que não tem nada haver com minhas conclusões sobre a peça. E alguns contatos com o pessoal do Roberto Alvim descobri que neste mato tem cachorro. No caso da Romagnolli, ela troca suas palavras pelo ganha pão. E no meu caso sou um cachorro demarcando territórios, e como não conheço os rostos e me dão as costas, acabo gravando um punhal sem piedade.

A peça "Parido" começa com uma atriz no corredor de entrada do teatro José Maria Santos se dirigindo a cada uma das pessoas que passa por ela dizendo para desligar o celular. E antes, do meio das cadeiras quando ela vai sentar, solta seu grito de "por favor, desliguem seus celulares". Com o detalhe do nariz empinado e com uma tarja na testa de uma atriz de grupinhos de Curitiba. Porque ela me olha com nojo e nem sei se ela me conhece. Deve ter tido algum contato comigo superficial que nem lembro de onde, só pode ser.

O inicio da peça é de uma escuridão profunda e um silêncio que vai sendo quebrado com a sonoplastia de um vento. Neste caso devo estar com um trauma de vento sendo que ontem estava no litoral e deu um temporal que arrancou o telhado da minha casa e dos vizinhos. Ali eu vi o vento e as curvas que ele faz no espaço, e os raios no meio a ele eram insignificantes com pequenas tarjas luminescentes a poucos metros. Logo de cara com referência a algumas citações bíblicas fui levado ao teatro românico da alta idade média. É claro que este teatro não existiu, inventei agora. Existiu as igrejas da época com o escuro do público e as luzes do altar direcionados para uma elevação. Uma direção que nem deve ter saído de casa de tão fácil que é dirigir uma monotonia de gestos. Vozes impactantes com a intensão de penetração pelos ouvidos e remexer com o íntimo, e só faltou o latim já que as palavras é o que menos importa. Um pequeno sino bem acústico foi tocado algumas vezes, e fiquei em dúvida se foi feito por um objeto ou o aparelho de som do teatro. É bem possível que alguém do público esteja visitando uma igreja do domingo no cotidiano medieval, hoje. Para quem buscou uma semântica diferenciada acabou transbordado evidências de "referência e sentidos". E juro que fiquei torcendo por um canto gregoriano. Um seminarista chegaria aos céus falando com os raios.

A palavra "contemporâneo" sai daqui já que isto me lembrou algo medieval. Se for pela linguística tão debatida em épocas do absurdo acaba sendo fora deste tempo linear. Quanto a vertente até acho que existe méritos por unir um grupo da classe artística, com seus narizes empinados. É que nem Russell, o melhor é ter do que não ter nada. A motivação de assistir uma peça desta para alguém que nem faz a mínima do que esta envolvido é de uma peça repetitiva no seu quadro. Teria de surgir deste meio alguém que comunicasse com muita precisão aquilo que esta proposto, e não com palavras, e sim com comunicação como dois mais dois é quatro ou cinco. E tudo faz parte como o vermelho desfilando palavras.

E para completar o texto, uma vez que assisti o Fractal no domingo. Foi a última apresentação da "Mostra". Procurei perceber aquilo que é a dicotomia estruturalista que carrega em Lévis-Strauss. E dentro desta mesma elaboração tem as matemáticas com a construção do tempo social do qual atuamos como observadores próprio daqueles cientistas que procuram criar suas teorias das ciências humanas. Uma distribuição sem se ater a diversidade individual diante da generalidade, e exterioridade bem formatada. Pressupondo um espelho, sendo que tudo já é mais complexo, do mecânico ao estatístico. Contemporâneo por esta linha também não é. O contemporâneo esta longe de ser definido.

Amém

carlos jansson