quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Mídia e o Festival de Teatro de Curitiba


Neste festival fui mais pelo lado do desempenho das peças priorizando os trabalhos dos atores. Deixando de lado o pretensioso que alguns gostam de agregar aos seus trabalhos. E consegui gostar de todas as peças, inclusive “As Colheres Assassinas” com sua disposição de vir a este universo com pesquisa filosófica. Estão no caminho certo.

Não vou falar das minhas desilusões e contradição da peça da Stoclos e nem das peças da Mostra que os méritos foram equivalentes ao trabalho e a atuação dos atores. Se chegaram lá é porque mereceram. E todos corresponderam ao propósito.

A intenção na minha pesquisa foi perceber onde a arte se manifestaria com mais amplitude, independente da experiência já adquirida. E algumas coisas marcaram com força. E o nome do festival eu não sei. Só sei que ela estava na peça “Pai” de Ribeirão Preto.

Aqui vai a minha impressão sobre ela: Quem interpreta tem a obrigação de fazer sua estória vibrar. E ela junto com a atriz coadjuvante que nem sei se era para ser coadjuvante fez a estória transbordar e ter um brilho instigante. Ela adotou uma postura nova na sua interpretação e conseguiu agregar a arte. Mudava a intenção da fala como se dizendo: era para ser assim, mas eu estou fazendo diferente, e melhor. Nos pontos de exclamação da fala não colocou exclamação, por exemplo. E os gestos pequenos e expressivos. A voz penetrante e agradável.
O princípio básico é perceber se o ator cresce no palco. E ela não cresceu, ela desmontou o palco.

O exagero fica por conta de um artigo de blog  diferente dos artigos num jornal impresso que tem de ser imparcial percebendo seu leitor. Sendo o crítico do jornal apenas um release dos espetáculos com pouca coisa das suas próprias convicções. E que todo o charme esperado de um artigo no jornal se desfaz  no olhar do artista quando percebe que foi apenas uma divulgação superficial do que ele mesmo acredita do espetáculo. As vias para o crítico de teatro ou das artes não está no jornal impresso que não dá esta isenção.

Recebi a seguinte intimação da assessora de imprensa do Festival de Teatro de Curitiba falando dos ingressos reservados para os grandes jornais com matérias e só eles tem acessos a todos os espetáculos por escrever sobre eles nos jornais. Como se o trabalho de infra que faço de visitar os pequenos e fazer os vídeos que chegam a 160 mil acessos na internet hoje não fossem nada. Prefiro ficar com esta camada em efervescência do que estar num patamar pretensioso. Não generalizando porque assisti alguns espetáculos divinos da Mostra. A minha dúvida é sobre o trabalho da Stoclos que é cercado de palmas e a contradição de um episódio do produtor diante de uma conterrânea da Stoclos na porta do teatro. Uma alienação total que deve ser o assunto da peça em questão. Não vou ser agradável e bater palmas para quem trata mal as pessoas.  

Voltando a falar de coisas boas, vamos falar da menina. Ela é o grande nome da interpretação neste festival, e como espetáculo pontuo a pesquisa da NPC-artes do Alberto dos Santos que desta vez veio com alguns elementos óbvios no cenário e um espetáculo um pouco mais modesto. Mas, não tira a sua grandeza de perceber que o espetáculo é a cara do seu diretor. Tenho dúvidas quanto a esta predileção e acredito se for contestado. Agora a menina não. Embora seja mais uma que vai se perder neste nosso Brasil da Dilma que vai vender porcos na China. O neste Paraná que seus espetáculos não sublimam por falta de estrutura de continuidade. Têm produção, mas falta respaldo.
A menina pode ser uma atriz do Fassbinder de um futuro que promete e deveria estar entre os grandes nas mídias de novela. Só que a cultura brasileira não dá esta chance a si mesma.

Falei muito e este é um resumo do meu sentimento sobre este Festival e sinto por não ter assistido a muitos espetáculos. Poderia até ter uma convicção diferenciada. Foram a média de três por dia. E três tem tudo haver com o nome desta página. 

Faço a correção depois.  

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Caso Bruno e o Teatro

Este artigo se complementa com o vídeo "Maria da Penha" no youtube que fiz em julho de 2.010. E a base dele é o histórico do conhecimento que vem sendo produzido de uma forma metafísica é claro. É algo que se acrescenta com informações do passado.

No caso Bruno o desenrolar da argumentação sobre os culpados do assassinato da Eliza Samudio foge um pouco do trivial da justiça quando se trata de fazer valer a punição sobre o feito. Provavelmente é o tipo de argumentação que nem vai passar pela cabeça dos promotores e da defesa do caso, no julgamento.

O crime não é isolado a poucas pessoas, e sim, um crime da humanidade, já que vem sendo escrito desde os textos gregos. Ele é um infanticídio levando em conta que o principal motivador foi o filho em comum a ambos. O diferencial no contemporâneo é que ele se encaixa no drama burguês. E aqui está a identidade ou personificação do "Drama Burguês".

Em outras épocas o inconveniente era afastado simplesmente com a morte do filho, e assim se fez com a Margarida no Fausto. Que tem haver com o meu texto "Lágrimas de Goethe" que pretendo montar em breve. A morte de uma criança podia ser algo de conseqüências e causas nem pensadas, numa anacrônia.

E falando em anacrônia diante da natureza humana, o Pierre Clastres no seu livro "A sociedade contra o estado" no artigo "O arco e o cesto" coloca que os índios Guaiaqui tinham uma proporção de dois homens para cada mulher. E nem por isto o suícido e o infanticídio eram pensandos. Razão disto é a possíbilidade de cada índio homem "ser" um caçador. 
No princípio de que a natureza determina diante da razão contingênte fica uma fina película da episteme. Que na própria ordem da cultura se manifesta uma episteme natural condicionante de um descontínuo, próprio do homem. Que no geral o homem tem maltratado esta ordem. O real traduzido para o poético é sair da terra para nuvens cambaleante que fica sujeito as lembranças e o mito da existência. A existência é um tempo vivido que pode ter extensão na lembrança de uma sociedade que ela se configurou. E com isto ela ganha dimensão. Medéia sempre vai ser superior ao caso Bruno, e que justifica a crença dos deuses no nosso mundo. 

No caso Bruno o foco do desfecho foi desviado e o incrível disto tudo é que a criança foi poupada. Mas, a forma do crime ultrapassou a barreira do trágico com a Eliza sendo destroçada e jogada para os cachorros. E o patológico do "Drama Burguês" que é o trágico com o acréscimo do elemento poder do dinheiro na normatização de valores vigente desviando a atenção dos executores para um outro desfecho da realização da façanha. Demonstra que este elemento leva a humanidade a um demasiado stress com resultado incalculável.

Aqui fica uma demonstração da ulteridade humana que pode atingir o indivíduo independente de sua formação ou qualquer coisa que seja. Não adianta só cobrar do indivíduo sendo que ele é propício a todos. A moral e os bons costumes não têm nada com isto. O que desencadeia pode estar acima do indivíduo quando ele é acusado de ser o mentor do feito. E é principalmente na literatura dramática que o gancho se materializa.