quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Uma Noite de Cão



Sai para a rua, depois de um espetáculo daqueles que não trazem nenhuma novidade carismática, para mim. Foi uma tentativa de purgação para sexos indefinidos. Em plena peça teatral, a diretora resolveu projetar um vídeo, com dois homens que fazem um cachorro quente. E em vez de ser uma salsicha no meio do pão, era o pênis de um deles. Uma espécie de chupeta alternativa.

Eram nove e meia da noite. Com todo aquele pessoal em frente ao teatro, reunidos e comentando. E eu decepcionado porque minha opção sexual é mulher com buceta.

Quando estou chegando na esquina, ouço um tumulto. Um rapaz batia com os punhos fechados no capô de um Kadet preto, com violência, e gritava:

__ Sai daí seu vagabundo!!!

O carro com as lanternas ligadas e dando setas, tentando se movimentar. A namoradinha do rapaz, com sua voz aguda, deve ter pensado na falta que lhe faria aquele carro tão confortável. E aqueles programinhas longe das asas de seus pais.

__ Pelo amor de Deus, chamem a policia. Estão roubando o carro, o carro do meu namorado.

Não sei o que me deu? Não sei porque tomei uma atitude. Só eu, mesmo para uma coisa dessa. Sendo que tinha um grupo de rapazes próximo e muitos outros, que olhavam curiosos.

Lembrei que voltando na rua, na outra esquina tinha um posto policial, e desandei a correr, passando em frente ao teatro de novo. Nisto vem em sentido contrário ao meu, um rapaz com um cachorro branco. Passeando com um cachorro, aquela hora? 10:00 horas?

Só identifiquei o cachorro quando ele tentou me morder, me acompanhando na corrida por uns dois metros. Neste momento eu já estava me sentindo patético. Uma por estar correndo, e outra por ter de interagir com um cachorro.

O foco das atenções era todo meu, com todos os olhos que enxergavam um ser de carne e osso histérico, correndo. E aquele cachorro que não parava de latir. Já fui relatando o acontecido para o guarda que estava na porta. E com a respiração ofegante e gaguejando, ainda mencionei a possibilidade de dar em merda, porque o ladrão estava dentro do carro e o dono cercando o carro.

Voltando, chego na esquina e o Kadet não estava mais lá. Fiquei desorientado. O rapaz me falou que o dono do carro achou que, aquele era o carro dele, sendo que o dele estava mais na frente.

__ Não é possível! Dois Kadet pretos?

E eu, o patético, parado na esquina. Sai totalmente fora do meu equilíbrio. Invejei aqueles que não se abalaram com o apelo da garota. Estava tudo calmo. As pessoas andando normalmente, as mesmas que identifiquei naquele momento febril. E o cachorro branco ia à frente, farejando o chão, ao lado de seu dono.

A gente sempre se esconde atrás de um equilíbrio. Não quer se expor. Faz tudo de forma calculada, com gestos medidos para não ser avaliado de forma negativa.Situações como estas, as neuroses urbanas, fazem com que as pessoas se tornem frias, com recusas expontâneas. Isto porque acontecem experiências das mais variadas situações. Como eu, que da próxima vez, talvez, seja apenas um curioso cauteloso. Cauteloso porque têm muitas balas perdidas voando por ai.



Um textinho de 8 anos atrás. Foi no Largo da Ordem e o teatro é o Londrina dentro do Memorial.


carlos jansson

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cinema movimento

Ninguém fala e é velada a pesquisa do movimento-ação na duração do cinema dos Glaubers Rocha. É tido como os grandes caras com seu cinema, e fazem uma propaganda danada sem se ater ao efeito cocaína no cara no instante de sua produção. Combatem o trem, mas veneram o trem em forma de mito. E dizem que tem gente pensando. 
Na estética, Jacques Derrida diz que temos apenas rastros do passado para a imagem-ação. Mas, será que exitem rastros nos Glaubers de um universo de imagens como matéria não existente? Será que foi aí que a duração se perdeu na química?
A montagem no cinema é podre, e sem esta de dizer que filme é uma arte de alguém. Existe um vácuo. Solucionado quando se desfazer a burocracia no fazer com o autor-diretor for aquele que absorva todo o mecanismo de uma tecnologia, que cada vez mais facilita o manuseio. Os equipamentos estão disponível a custos razoável, e já não se justifica os assaltos aos cofres públicos de heróis, que ainda não provaram suas existências.
A questão de roteiro, atuação de atores, planos de câmera, disposição do dia da filmagem, questão de fisiologia dos técnicos e suas manias, a vaidade da direção e depois o conforto da cadeira na edição com seu montador levando em conta o sua rotina, somado com o diretor que agora olha a tela e tenta dar forma aos movimentos com suas devidas durações, sujeitas a cortes daquela mão no mouse com um ar pessimista na construção de qualquer coisa artificial que esteja sendo pensada sem ser integral. E o movimento entre cortes que muitas vezes tem inserido uma bandeira, acaba sendo mais nojento. 
Deveria-se perguntar o porquê do Brasil não conseguir fazer um cinema de uma imagem previligiando seus artistas e sua cultura como moldura de um mundo de um imaginário a ser seguido, ou até mesmos os questionamentos que o cinema permite do movimento ação pisando solo brasileiro? É bem fácil de ver isto, bastando perceber quem são aqueles que assumiram a postura de construtores desta técnica e observando como se relacionam com este nosso mundo com o tom de dependência arcaíca e falta de comprometimento com o movimento. Eles podem estar muito bem. Mas, são pobres naquilo que pensaram em fazer.
A "cocaína" fica por conta de comentários de técnicos da época, que faziam parte das estruturas.