terça-feira, 31 de março de 2015

A Língua portuguesa no Festival de Teatro de Curitiba



Existe um mundo interessante percebido e não falado nas relações numa forma de episteme ou coisa assim que possa ser falado sobre ele. E vou usar um exemplo deixando mais claro e tentando deixar mais prático a coisa.

Um grupo de teatro com seu diretor muito habilidoso distribui um discurso de uma peça com fino trato e pelo discurso não tinha como não reconhecer a riqueza da obra. Destas que vem nascendo e vai se formando um grande destaque. Só que a coisa não é bem assim. Quando falo "coisa" dou um significado que ela merece na filosofia.

Existe uma preocupação ocidental em agarrar o modo oriental de se fazer teatro. E com uma capilaridade própria de um teatro muito mais rico incorporado ao corpo com um todo que fala. E a palavra balbuciado pela boca não pode corresponder só a palavra, embora houve tentativa de uma transcendência que alguns devem ter alcançado. Sem tirar o mérito da obra com sua divulgação esperta e oportunista. Como de um sujeito de Curitiba que alguns dias atrás estava acabado se fazendo de um Raul Seixas chegando a cair de bêbado num show de uma amiga. E agora ele se transformou em alguém andando de fraque e brincos nas orelhas num estilo que seria de sujeito muito bem sucedido. Mudança de um ano para cá.

A peça conseguiu colocar o grande número de jornalistas num dia de apresentação e sentei ao lado de um que veio de Minas Gerais. E um inicio com alguns detalhes que já não são próprios de uma obra amadurecida. E a nossa conversa foi neste sentido. Conseguiram ter o sucesso. Mas num jogo de palavras na fala da atriz, ela colocou em xeque. Não estavam erradas só que não soaram bem. E vi o jornalista jogando o corpo para trás como um pequeno susto do tipo acordei. E no final da peça os artifícios de discurso continuaram. É claro que o sucesso muitas vezes se dá por um caminho deste. Mas a pesquisa para uma arte oriental não vai avançar neles, próprio deste mundo esperto. E as espertezas que desencadeou as observações devem ser justificadas com o trabalho. Não estão errado. Divulgar faz parte e melhor ser esperto do que ninguém ver o trabalho.

Tenho problemas com a língua portuguesa, como a maioria dos brasileiros. Sempre detestaram a língua e a presidenta Dilma saiu com uma de impor que agora os candidatos do Fies não podem tirar zero na redação. Só que nunca pararam para pensar o que devem estar errado para se ter um problema como este. Na ditadura por exemplo, nos meus tempos se tinha aulas de francês. Tanto que hoje procuro a língua francesa num escape do português. E se tem a língua Inglesa como padrão de disciplinas que dificilmente alguém desenvolve a não ser que faça um curso particular. Na ditadura se tinha aquelas letras do Chico com as dubiedades significativas enriquecendo a língua. E hoje ganhamos o axé das bundinhas. Sei que voltei para o assunto de comparação entre a ditadura e a democracia demagógica. A possibilidade de se ter mais poetas no contemporâneo é menor. Falam de uma desconstrução, justificada. Faltou uma conclusão no texto, uma hora termino.




sexta-feira, 27 de março de 2015

Silêncio! de Renata Mizrahi



A Peça teatral Silêncio é uma obra despretensiosa num primeiro olhar. Difícil de aceitar que possa ser uma boa peça a ser assistida. Uma sinopse ingênua carregando até um lema religioso quando se passa numa comemoração de judeus. Até o primeiro momento sentado no público constatando o cenário pobre se tem a certeza de ter entrado numa roubada pela escolha da peça. Mas pode ter certeza que vai pagar pelo seu preconceito.

A peça começa e já é daquelas que te agarra nas primeiras ações com uma dramaturgia que acende o interesse do começo a fim da peça. Uma trama bem distribuída entre os atores sem ter um monopólio de um personagem. Os atores trabalham em função da dramaturgia sem excesso, sem vaidades dos profissionais. Um acerto de dramaturgia que brinca com o público e passa do humor ao contexto sério do texto numa facilidade arrebatadora. E o grande ganho é a pesquisa histórica da imigração como pano de fundo.

É claro que é uma peça com medalhões do teatro e da televisão brasileira. Mas o interessante que os personagens estão distribuídos com uma equivalência sem que estes monopolizem e com uma aparente generosidade de quem pode se sobressair num trabalho. Todos imbuídos no objetivo da dramaturgia. Uma dramaturgia feliz que carregou todos ao delírio das palmas. Parabéns Renata Mizrahi com seu texto. Parabéns a curadoria do festival de Teatro de Curitiba 2015 com seu "O Inesperado acontece aqui". Intuindo que foi a melhor apresentação deles.

Direção: Priscila Vidca e Renata Mizrahi
Elenco: Suzana Faini, Jitman Vibranovski, Karen Coelho, Verônica Reis, Alexandre Mofatti, Vicente Coelho e Gabriela Estevão.
Stand-in: Flávia Milioni, Léo Wainer e Zé Guilherme Guimarães.




domingo, 22 de março de 2015

Elis Regina e Chico Buarque e a depressão do Brasil.



Ultimamente se tem falado muito sobre a cantora sem realmente colocar o que era o seu tempo e fora de seu tempo. Não se fala da depressão da Elis Regina que já declarava que as coisas mudaram.
Um sentido óbvio é perceber as vendas dos discos em épocas da ditadura de um povo entorpecido. O Arena vivia seus melhores momentos e o Chico era aquele que se fez na ditadura. É um erro pensar o povo da época com consciência de ditatura. E tem gente falando que era o mundo e o fundo quando na verdade existia uma atmosfera pulsando Chico e Elis. Viver exilado na França também não era tão ruim. A França pagava salário para eles. Estou procurando um exílio deste nem que seja para viver na Pont Neuf.

Com o momento da transição da ditadura para a democracia as coisas já tinham mudado o seu discurso. E ficou evidente a transformação e a constatação da Elis Regina na sua volta. Ela mesma em declaração já falava de algo mudado. E mudou. Basta ver o Chico Buarque com todo o nome construído na época, se ele lançar um disco hoje com certeza não vai vender o tanto que venderia naquela época ou o sucesso no vulto de sua obra.
E a tese é que o entorpecimento não deixava ver o político na música. Enquanto na transição era discurso de novos momentos e aquela música já não dava conta da nova realidade. Elis já não era uma cantora e sim uma representante de um simbolo político, como o Chico também. Foram acordados do entorpecimento. E aconteceu a depressão da Elis Regina com a fatalidade e o envolvimento com a cocaína, e dá para aliar ao seu momento depressivo. Estou falando num âmbito popular e não é específico da política das gravadoras.

Acho estranho a forma que se referem a uma pessoa no passado mantendo só os feitos e sem se ater ao momento que ajuda a explicar os feitos. Existe sempre uma mentira no Brasil ganhando proporções oportunistas de um mundo prático sem o aprofundamento necessário.
É um grande erro falar que o povo combatia a ditadura. E estes falantes aí vendendo bem a democracia para serem os galos no galinheiro já se davam bem com a ditadura. 
Hoje a gente tem mais consciência política de que as coisas não vão bem e melhor. Só nestes primeiros 3 meses do ano de 2015 já foram mortos 40 pessoas com balas perdidas. Existiam problemas lá. E existem problemas hoje. Então nada mudou tanto assim para se achar que lá era o ruim e agora estamos muito bem. A transformação para melhor não vem desta dicotomia e as mudanças para melhor é quase um utopia. O mundo não é feliz.

E sinceramente, não gosto das músicas da Elis Regina. Mas gostaria de ver um povo consciente e respeitando a memória dela. O que eu vejo não é bom. Vivi lá e não gosto de mentiras. A quem serve tudo isto? Pode até ser alguém aproveitando a oportunidade de aprovar projetos de leis de incentivo para ganhar em cima da memória dela. Acredito até que achei os motivos agora. É hora de contar a história a maneira clássica isto porque o povo uma hora vai começar a desconfiar destas formas elogiosas quando sabem que a vida não é toda estrela. Outra coisa é falar tão mal do passado se o presente é uma decadência só. Têm gente que vai ficar com a pulga atrás da orelha.

O mesmo entorpecimento que faz os brasileiros amarem as músicas da cantora americana Rihanna, sem entenderem uma sequer palavras do que ela diz. 




quarta-feira, 18 de março de 2015

A Globo e seu sexo - Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg


A mídia geral usando e acredito ser uma foto de divulgação. 

Seria muito bom se as mulheres se beijassem mais na realidade. Precisam de novelas para se satisfazer. Tudo bem, elas gostam de novelas. Já saiu de moda o beijo do galã no final dos romances. E as pessoas precisam uma das outras por causa do sexo. Com isto a arte vai pelo ralo.

E a sexualidade segue uma evolução que daqui uns dias os pais estão pegando as filhas. Bom, isto já existia antes. Famílias se pegando, que segundo a antropologia foi o início de tudo. Uma evolução que segue um caminho se pensar na lógica sexual e a cada dia se chega a uma coisa nova na questão da liberalidade, e até mesmo a necessidade de audiência para chocar que levam novos hábitos, costumes culturais acomodado em leis para um novo tempo.
O Levis-Strauss fala que a mulher era objeto de troca no meio indígena entre as tribos para se manter a paz. Sinto uma certa beleza nisto pela paz. E na Inglaterra nos anos 1800 os homens levavam as mulheres com coleiras para vender nas praças. Olha o detalhe da data. Ai sim acho que evoluímos em tão pouco tempo para a emancipação da mulher que vem agarrando seu espaço. As leis que limitam o sexo deveriam cair. Que todo mundo fique livre para fazer as suas escolhas. Se não tivesse a Aids seria muito melhor.

Antes das roupas nós tínhamos um corpo. E o corpo deve prevalecer. O desejo tem sua própria dinâmica que não vale ficar ditando regras. Ultimamente tem mulheres correndo nas ruas, nas praças nuas. Quer coisa mais bonita que valorizar o corpo? O nascimento das crianças na natureza e a humanidade fazendo um culto ao natural. A mulher e sua natureza ainda é pouco valorizada devido os pudores e a ditadura do vestimento para esconder o corpo perante um ser errante aos olhos de deuses. A maça neste caso é a grande culpada ou talvez a caixa de Pandora. 

Um dos primeiros filmes que assisti foi o filme Império dos Sentidos. Na época foi muito polêmico. Hoje a evolução tecnológica tornou o acesso banalizado. Nem precisa dos corpos diante dos filmes tão elaborados e da Aids. As pessoas não se pegam mais com a qualidade que tinham. As pessoas se pegam mas já não tem a pegada de antes. Se preservam e não se responsabilizam por relações que começam e logo acabam. O mundo mudou e o sexo perdeu seu fetiche. Agora se faz de conta que se pegam. Mas não se pegam mais. O amor acabou diante das dificuldades deste mundo desgastante. Até a Globo não faz novelas como antes por não ter se reciclado na dramaturgia diante dos simulacros no movimento.

Na biografia de Tennessee Williams ele conta que não ficava um dia sem sexo. Ele saia na rua, na praça em qualquer lugar e nunca ficava sem um homem. As igrejas de 15 anos atrás a pauta principal era o pecado e as mulheres não podiam usar calças compridas. Existia um gosto no pecado. Mas a igreja mudou, a Aids influenciou comportamento, tecnologia de acesso diversificaram as vontades. E a Globo não se reciclou. Ela ainda é puxada pelo sexo, não que não deva existir. Mas tem que ser uma dramaturgia dinâmica e toda vez que carrega com intenção o povo percebe. Quem faz o teatro deveria saber que existe um inconsciente. Não adianta estes políticos polêmicos do sexo tentarem puxar a carruagem. E não adianta achar que o ator homo não tenha que encarar o personagem com a perspectiva histórica e tradicional. Muitas vezes pego alguns atores que envolve o seu mundo em cena. E o que fazer num caso deste? Claro que muitos dos atores assumem o papel tradicional e que tal ação não é bem um teatro, mas não deixa de ser uma representação. Mas como ser evolutivo no teatro com os gestos sexuais. Considero que a dramaturgia com sexo hoje não é contemporânea e podendo nem ser arte. Mas que se beijem e que se iludam. Comigo os tempos estão para o não sexo enquanto alguns acham que o norte é o sexo. O simulacro atual não permite tal manutenção da natureza tradicional. Neste texto a natureza tem um sentido de esvaziamento diante da complexidade.