quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Diderot e o Ator



Uma das coisas que me ficou muito claro no trabalho do ator e encenador é como abordar o texto de teatro numa montagem. Longe das loucuras das teorias pós dramáticos, com certeza as experiências que vou passar são concretas e vividas, sem contestação. 

O texto no inicio da montagem tem seu lugar significativo porque é dela que vai sair as primeiras visualizações imaginárias para ser moldadas. Mas com o passar do tempo na quantidade de ensaios o texto some. E agora é o ator moldando seus personagens. Questão de quantidade as vezes é relativo porque o tempo longo se tem a meditação. Mas na prática quanto mais se fizer o trabalho de ação, mais se tem um resultado de conjunto e do trabalho do ator transbordando. 

Diderot no "Paradoxo" coloca o cansaço na quantidade de ensaios para fugir do texto e assim a qualidade venha a aparecer. Alguns confundem quantidade pois tudo tem seus limites e o encenador deve perceber até que ponto pode chegar num ensaio. Muitos atores inocentes perguntam quando começa o ensaio e quando termina. E como é artista geralmente chega muito atrasado (não estou falando dos problemas do Rush dos ônibus e do tempo chuvoso que justifica). Mas perguntar quando termina é de atores iniciantes. Isto demonstra que a evidência se realiza percebendo que os atores maduros assimilam este fato no cotidiano dos ensaios. Então não é só o encenador que percebe este detalhe. 

Tive um caso de ensaiarmos uma peça e ela estava transbordando e dias antes da apresentação os atores deram motivos para não precisar ensaiar mais até a apresentação. E era uma seleção que passaram. Mas, a reclamação é que não saiu como nos ensaios. 
Eu tinha alertado para o fato porque não me é novo isto. Ao contrário, nos dias de apresentação é que eles deveriam ensaiar muito. Neste caso não é uma questão só do texto e sim da ação mais ontológica no palco. Acho razoável a experiências de fazer pequenas pré estreias como estou fazendo com a peça "Os Olhos Verdes da Neurose", apresentando para amigos e escolas. Amadurecer a fruta se come ela com gosto de açúcar. 

Estes que confunde a quantidade de ensaios pode ser possível que um seja o Zé Celso do Teatro Oficina. Dizem que os ensaios dele levam em média 3 dias. E aparentando uma orgia dionisíaca. Quem não gostaria de uma coisa desta? Até Erasmo de Roterdã estaria perdido neste mundo. Mas ele tem a coisa do contemporâneo e nisto sinto que fugiu um pouco da minha proposta. 



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