quarta-feira, 22 de abril de 2009

A divulgação é tudo para dar visibilidade a um trabalho, desde cartazes, folders para distribuição como convite para assistir as peças. Um ingrediente essencial no Festival de Teatro de Curitiba. E o ano de 2.009 não foi muito feliz, começando pelo cartaz da peça “Você Nunca Viu Nada Igual” que era ruim e a peça muito boa.

Alguns não fazem nem idéia de como fazer seu trabalho acontecer, porque se fosse fácil todos os espetáculos tinham casa cheia. E os atores poderiam comprar seu carro, sua casa e constituir família. Lembrando que o problema cultural no país não é culpa dos artistas e sim de uma conjuntura política corrupta. De uma vaidade tendenciosa pelos meios de comunicação que não dão trégua para seu povo na dignidade de ter uma melhor qualidade de vida, onde prevalece sempre os interesses burgueses e uma grande discriminação de valores.

Um cartaz que marcou por ser muito ruim foi a peça “Medéia”, que surpreendeu pela qualidade do espetáculo. Sempre é bom assistir os clássicos, mas esta foi muito bom, e gratificante por ter tido um amigo que trilhou na escola Macunaíma de São Paulo. Fui responsável por muitas indicações para assistirem o espetáculo. O que penalizou foi a postação de voz, de alguns personagens. Em compensação têm um coro lindamente composta como um lindo sonho exótico. No geral foi impressionante o cenário. A coreografia e o trabalho de luz muito bem elaborados. Intenso do início ao fim do espetáculo e com um cartaz que não colocaria na parede do meu quarto.

O engraçado foi o cartaz da peça “Trem do Riso”, que um amigo apontou e disse que o cartaz era muito simples e me perguntou se eu iria ver. Num tom de que ninguém ia assistir. E no fim foi uma peça com casa cheia todos os dias.
O “Trem do Riso” foi atípico por apresentar um trabalho ingênuo destes que vem do nordeste de um sujeito que se intitula Mineirinho de Maceió. Não entendi o porque deste nome e que não vem ao caso porque cada louco com suas loucuras e o trabalho dele é de um ator com o talento original quando canta, dança e uma presença de palco contagiante.

O certo do nordestino é a rodoviária de São Paulo. Mas como é artista, já desce na porta do Projac. Talento para isto ele tem, e já vem do nordeste com uma cara natural de chorão. Só não tem a cabeça achatada e deve ser aí que esta a explicação do nome mineirinho.

O espetáculo é bom e contagiante, sempre de casa cheia pela habilidade empática com o público. Um público que perdoa até algumas fragilidades, sendo que tem boas piadas, dança e o glamour esta nos repentes e a introdução dos personagens.
Esta introdução que poderia ser melhor elaborada quando busca a nostalgia da descoberta dos personagens. Mas o público perdoa, como perdoa os play backs assembleianos. Com certeza ele faria muito sucesso na Assembléia de Deus e justificando que nos caminhos que ele anda é possível que esta seja a qualidade necessária para um público especifico. Como falei, é um espetáculo peculiar. Mas, não tem que não goste e não saia com dor de barriga de tanto rir.
O que faltou foi um cuidado maior com o repente. Foi tão pouco utilizado e que com certeza seria o carro chefe do espetáculo. E não valeu a pena ter substituído pelo play black no meu ver. Seria perfeito como foi a introdução do Pantera Cor de Rosa com o pano que deve ter comprado nas Casas Pernambucanas.

O “Trem do Riso” é um espetáculo feito do talento regional com elementos que bem trabalhado pode apresentar em qualquer lugar do mundo. É como falei, “bem trabalhado” porque ainda falta lapidar alguns detalhes para calar a boca dos críticos. Mas é um espetáculo que assistiria quantas vezes possíveis, isto porque o mundo esta triste e precisando de mestres que consigam fazer o mundo rir.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Uma parte interessante de nossa história se encontra no livro “O Trato dos Viventes” de Alencastro. Explora toda uma materialidade de informações sobre a história da África com nossa história. Um laço traumático que faz de Angola um território tão brasileiro, que brasileiro é Angola. Histórias da cruzada de Vieira e nomes como de Salvador de Sá como responsável por destinos entrecruzados, que estão resgatando nas escolas dando prioridade para a história da África, que é nossa também. O zimbo que é um caramujo que foi dinheiro de troca de ambos e a cultura de lá enraizada nos nossos costumes.

E cada vez mais daqui para frente as culturas estarão se solidificando em intercâmbios como aconteceu com o grupo de Angola no Festival de Curitiba de 2009. Com certeza serão lembrados porque foram estandarte com a presença do escritor José Mena Abrantes, autor da entusiasmada “Amêsa” da Cia de Teatro Gente, de Salvador. Um belo espetáculo com um cenário cheio de flores espalhados pelo chão e uma bela mulher pisando sobre flores. Um monólogo que segundo o José Mena Abrantes seriam duas personagens.

“Amêsa” foi na carruagem do sucesso da presença do autor que formaram um grupo dos próximos. Que não deixa de ser justo quando não interfere no propósito de ser um intercambio, levando em conta que Angola esteve mais em Salvador do que em Curitiba. As restrições do grupo fechado só fugia quando o instinto e a vaidade, numa espécie televisiva, aflorava. Salvador não é Curitiba e nem torce para o Coxa, e o festival é de teatro com uma comunidade do Brasil inteiro, que se faz presente.

Não desmerecendo o monólogo porque gosto e já montei “As Mãos de Eurídice” de Pedro Bloch. E todos os méritos para o autor Angolano José Mena Abrantes que cativou pela sua simpatia e preocupação em manter esta proximidade entre artistas dos dois paises, com a ida de espetáculos estruturados do Brasil para Angola e Angola mantendo esta disposição simpática pontuada no autor. É raro os dramaturgos estarem participando em festivais ajudando na formação de público, e que, José Mena Abrantes prestigiou com sua presença.

Em breve vou falar sobre a peça “Rosa de Vidro”, que foi uma das melhores que agradou a Gregos e Troianos, com suas deficiências mas, que prevaleceu os seus acertos. Um espetáculo digno de ser classificado como teatro pelo conjunto e empatia de uma direção coerente.
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E um pouco sobre a peça Você Nunca Viu Nada Igual com um nome esquisito e um folder de mal gosto. Que pelos dois eu não iria assistir, e só fui por uma indicação. É uma pesquisa apolacada do Tadeusz Kantor feito pelo diretor Alberto dos Santos Silva do NPC Artes de São Paulo. É lindo quando você sai de um espetáculo e percebe que tudo valeu a pena.

sábado, 18 de abril de 2009

Suprimindo o tempo na sua longa duração: e nada mudou.




Duas coisas me deixaram abismado esta semana. Uma delas foi uma conversa no borracheiro, onde um boy escolhia uns pneus destes que são frisados de novo e tem uma segunda chance nos asfaltos da vida. O assunto dele é as escapatórias nas blitz policiais, com o borracheiro dizendo que nunca ia tirar a carteira de motorista. Perguntei ao Boy, e ele disse que também não iria tirar a carteira, e caso fosse pego pagaria a multa e pronto. É a primeira vez que vejo em atacado alguém que não esteja disposto a esta imposição da lei. E concluo que o mundo esta virando de cabeça para baixo.

Isto é culpa deste governo democrático que cada vez fica evidente que qualquer estrutura possível para dignidade dos cidadãos está próximo de uma anarquia no bom sentido. Onde não faz sentido um governo sendo que se pode gerir qualquer estância com contratos. Todos sabem que um vereador entra para dar nomes em ruas e um prefeito para cumprir uma meta financeira, coisa que um gerente pode fazer e ser mandando embora caso não cumpra as metas. Enquanto isto só vemos a podridão no poder sem condições de fazer nada.


É difícil esta condição de perceber que existe o mal, sendo que poderíamos assimiliar noções muito mais evoluídas. Basta lembrar que o chipanzé é um animal social e que quando quer fazer amizade ele bate no inimigo do pretenso amigo. Um jogo do tipo sou teu amigo e te defendo dos teus inimigos. E não vamos longe quando assistimos os Estados Unidos sendo inimigo de países para se posicionar como amigos de um conjunto de paises ideologicamente ligados nas mesmas crenças e capitalista "democráticas". Como pensar o ser humano como evoluído se ele não passou da política do chipanzé?

Quero escrever comentários sobre peças que assisti no festival, que pretendo fazer com tempo. E é bem provável que se espere alguma coisa próximo de um elogio, na tentativa de massagear o ego. E como crítico, que quero ser, a vontade é dizer o que realmente vejo e fomentar uma mudança para numa próxima apresentação possa assistir e me deliciar com uma arte plena de beleza.
Não considero que se tenha trabalhos ruins, e sim que esta em processo para algo melhor. Ninguém monta um trabalho para menos, e sim, querendo subir os degraus do respeito.
Existem trabalhos bons e existem aqueles que vão chegar a ser bons. E se não conseguiram é porque não tiveram a oportunidade, ainda. E isto esta muito ligado aos textos que já falei anteriormente, que é a falta de uma base política cultural que esta muito acima da compreensão do artista na sua dignidade.

Há sim, variações percebida em canais de atuação. Como por exemplo; o mito do poder cultural no Brasil que passa pela Globo. Um ator, hoje, fora do eixo é acomodado por sua falta de meios de uma aproximação das novelas. Enquanto um ator no Rio de Janeiro que não teve a oportunidade de estar consistente na programação, se sente, no fundo da sua alma, um pouco menos. É um complexo mal-estar que chega as vias da dupla personalidade, quando este já teve oportunidade e tem seu nome nas revistas sensacionalista, e, encontram um fã na rua e ficam sem saber que atitude tomar, se de um artista de sucesso ou o ser natural que come, bebe e dorme como todos. O pior é aquele que fez novela, um dia.

Depende muito do olhar do ator com sua arte, não generalizando o artista carioca como foi na peça “Relações – Peça Quase Romântica” onde mostraram algo peculiar. Os atores tinham uma igualdade de presença de palco, com segurança e desempenho apropriado para a arte. Em alguns momentos subestimaram o texto confiando muito nas suas habilidades e com isto deixando um vazio. E como falaram, é teatro experimental. Principalmente na cena do telefone com dois personagens e um ator. Na imposição do personagem a uma suposta transformação médica. São experimentações que chegam ao limite se tratando de estar apresentando no Mini Guaira que torna qualquer apresentação um pouco menos do que ela é.

O “Relações – Peça Quase Romântica” não deixa de ser um espetáculo com humor refinado e com boa atuação. Os atores têm a capacidade de peripécias que extrapolam e mostram méritos de formação; como voz, presença de palco e alguns gestos sublimes que impressionam. Mas no contexto total ainda ficou uma divida a ser paga, e provavelmente nas próximas apresentações o público será recompensado por uma apresentação perfeita. Demonstraram que o efeito Globo não esta presente nas suas vidas, coisa que é normal perceber no artista carioca. Deve ser uma convicção que a arte do Teatro é ainda maior e o artista não tem que se submeter.
Um espetáculo de recortes em esquetes para uma noite de comemoração de uma vida feliz, proporcionada por atores preparados para proporcionar um sorriso ou inúmeras gargalhadas. Depende muito do humor do freguês.

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Faz alguns anos que escrevi este texto. Penso que não escrevia neste formato atualmente. Sou meio convencido e sempre penso que posso chegar um pouco mais. O "aí fora" ganhou novos olhares e traquejo na língua, que ficou mais afiada e assassina com um formato sútil, talvez. Este texto tem um mérito que chama a atenção. É o texto com maior quantidade de acessos. Ele têm uma coisa ácida que penetra o consciente coletivo que deixa a vontade de que poderia falar mais sobre estas coisas. Umas peripécias dentro das relações sociais, que se desvendam. São modelos que chamam a atenção na circularidade da estrutura social, infelizmente pobre. Mas, utópico contemplativo de Lévis-Strauss. Os nossos Brásis.

domingo, 5 de abril de 2009




E prazeroso perceber que grupos de teatro resolveram se unir em torno de um bem comum. Lutar por um lugar ao sol mais digno. Nada que não seja uma coincidência, que tudo faz sentido num momento que exige a ação. E alguns que reclamam que 300 peças num festival não esta suprindo na qualidade é porque um todo cultural brasileiro esta defasado. Um sistema que Foucault alerta e estudiosos já constataram a superficialidade do que temos como meta para nossas vidas.
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No Brasil se define como centro cultural o Rio de Janeiro, onde os artistas do passado só poderiam ter sucesso se fixassem moradia por lá. Até uns tempos atrás houve uma movimentação por uma interiorização, constatado que havia um grande abismo fora do eixo. E certas características ficaram bem claras com o fim da avalanche de empresários musicais diante de uma nova ordem tecnológica, e agora a disparidade no teatro dos globais que consomem a maioria dos recursos do governo para se manterem. Basta ver que a presença do Rio de Janeiro no Festival é ínfimo e que só aparecem se as apresentações acontecerem no Teatro Guaira, como foi a criticada peça do Albert Camus, “O Calígula” com o Thiago Lacerda.

Os movimentos servem para buscar uma nova ordem de igualdade e oportunidades sem ter uma ditadura das oportunidades. O Brasil esta mudando e a nova ordem mundial já não aceita a truculência de valores medíocres. O ministro da Cultura atual não estaria mexendo em algo se não houvesse a suspeita de que alguma coisa esta precisando ser mudada. E o Rio de Janeiro com sua globo não pode ser o eixo de um povo com o território que temos. Existe um Sul produtivo. Um nordeste criativo e um interior brasileiro intenso na busca de sua identidade. E os recursos da cultura têm que ser democratizado, deixando de ser propriedade das grandes empresas aliadas no eixo, que faz a discriminação cultural.

E cada um de nós temos que ser mais atentos as disparidades nas estatísticas porque o sonho de ser um artista de sucesso já não tem os mesmos caminhos de antes. E em quanto você esta preparando um projeto bonito que coloca toda a sua vida em perspectivas, com certeza terá alguns que apresentam projetos frios sem expectativas e repetitivos e conseguem aprovar por já ter a chave da porta dos recursos. Precisamos reivindicar novos modelos como estes; em que políticos não podem fazer suas campanhas de compras de votos através de métodos chulos, e agora eles tem que ter uma presença mais atuante no convívio do povo com projetos para garantir os seus votos.
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O Brasil esta mudando no econômico e existe uma tendência de mudar no cultural com uma presença mais ativa. O que não podemos deixar é de trabalhar para que isto venha a acontecer. E para isto é necessário os movimentos e apontar as insatisfações. Porque o pequeno artista é o que mais sofre com as discriminações e o Sul é o menos lembrado nas distribuições de recursos diante do potencial econômico que ele é. E provavelmente, com esta abertura do festival, vamos ter 300 peças muito mais estruturadas satisfazendo o paladar curitibano, acabando com esta elite entre os que podem e aqueles que não podem porque os que podem não deixam margem generosa para uma dignidade.

E não ache que você é um sortudo que vai cair de paraquedas num harém. Você é um soldado que precisa ter muito a idéia clara de sua própria dignidade que deve ser respeitada, e não comprar o sonho ilusório. Os tempos mudaram e o Brasil é outro com a conscientização que não somos diferentes destes que arrotam poder. Já é possível produzir com qualidade em qualquer canto do Brasil, bastando derrubar este reinado absoluto com suas mediocridades.

Quantos grupos já entraram com projeto na Lei Rouanet em Curitiba? São raros. Isto porque mesmo entrando é quase impossível de captar devido a falta de estrutura que comporte uma parceria com as grandes empresas. E assim a cultura fica fadado a uma burguesia que sabe fazer uso destes recursos. É uma lei de cima para baixo levando em consideração o olhar do historiador Thompson.

No estado do Paraná a situação é mais grave, quando pensar que outros estados têm suas leis de fomento a cultura, e que são muito utilizados pelos artistas. Um reflexo disto é pensar a quantidade de grupos do interior do Paraná que participam do Festival de Teatro de Curitiba. E se chega a uma estatística de presença zero. Não tem municípios participando do Fringe. O problema esta na cara, e pelo jeito não há nenhuma vontade política para que esta estatística mude.

São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e outros estão no Festival porque é possível ver as logomarcas. Será que não temos um problema de interiorização da cultura no Paraná? Tenho certeza que sim, basta ver as estatística de participação. Espero que os políticos vejam e não sejam corruptos como os de Minas Gerais.

sábado, 4 de abril de 2009



Ainda bem que estão lendo o blog, senão ficaria preocupado. A intensão é aprender um pouco e refletir sobre os espetáculos deste festival. Com uma pitada de humor e desvendar universos compostos em palcos. É claro que uma crítica relativa de um olhar que pode ser generoso e pode ser cruel com aqueles que se posicionam sem ter o que mostrar. Uma crítica construtiva para aqueles que absorvam o olhar e buscam melhorar seus trabalhos. E o objetivo destas palavras é consagrar aqueles que buscam.

Falando em olhar, tem um versículo na bíblia em Mateus 18:9 que diz: “E, se o teu olho te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti; melhor é entrar na vida com um só olho, do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno”. Já vi que estou pecando por ter três olhos e que é título deste layout.

E falando em inferno, lembrei do Guilherme Assado Leme e seu inferno no palco para ser fiel ao Livro “O Estrangeiro”, do Existencialista Albert Camus, onde o acontecimento principal acontece na praia embaixo de um sol de rachar. Neste caso a ação aconteceu no inferno ao contrário da bíblia que coloca a ação que pode levar ao inferno. É a evolução!

O inferno é uma palavrinha incomoda. O pecado calcado na moral norteia os hábitos, costumes e culturas do ser humano. Os bichos devem ter muito pecado, porque não ficam escolhendo seus parceiros e parceiras ideais na cama. Enquanto isto percebemos que somos frágeis, solitários mesmo em companhia do outro, e principalmente morremos.
Até que ponto poderíamos assumir o homem natural de Jean-Jacques Rousseau numa selva onde todos morrem mas ele solitário, o homem, não vê o seu próximo morrer. Então não conhece a angústia da aproximação da morte para si.

O tema Existencialismo é muito amplo e faz parte na nossa filosofia contemporânea, com uns dos seus maiores representantes presente no Festival de Curitiba 2009, com a peça “Paredes Revisitadas” do Mercado Cênico da capital Campo Grande do Mato Grosso do Sul.

Um grupo consistente. Mas, meio perdido em Curitiba, sendo que achei eles numa rua e levei ao local das apresentações.
E não escaparam a regra deste ano, e poderiam economizar na vontade. Que não é negativo, e tem o lado romântico de mostrar o seu melhor. Uma energia que comprometeu o clímax quando foi necessário. E um tema que o silêncio e a melancolia falam por si. Por outro lado a peça agradou o público e o seu carisma foi um dos pontos chave destes artistas.
Os trabalhos Curitibanos poderiam se espelhar nestes grupos que vem de fora e tem um respeito por seu público, vínculado com o mito do Curitibano que exige um bom material e é crítico.

Devemos considerar que o espetáculo no Solar do Barão tem deficiência de luz, e no início do espetáculo o som tinha ruídos. Como o Teatro Universitário de Curitiba que a iluminação na maioria dos espetáculos cortava a cabeça dos personagens com uma sombra.

“Paredes Revisitadas” trás a tona o universo de “Quatro Paredes” de Jean-Paul Sartre, onde “o inferno é aqui”. São personagens que se consomem numa convivência, que é comum na intimidade dos relacionamentos onde uns conhecem outros, e aprofundam suas mágoas e ansiedades.

Com certeza o Mercado Cênico nas próximas apresentações se sentira mais a vontade em Curitiba. E com temas polêmicos que parece ser as suas veias artísticas, num caminho de descobertas sem o calor do Guilherme Assado Leme em “O Estrangeiro” do Albert Camus.
E cito Mateus 10:28: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo”. E este “aquele” da citação lembra o Nietzsche com sua transcendência do Homem.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Em todos os festivais têm aquele comentário de que a quantidade não corresponde a qualidade. Pensando desta maneira é certo que se tudo fosse qualidade não haveria nada para melhorar.
O festival tem um formato que deu certo e perfeito ele não é. Não cabe perguntar o que esta sendo feito nos bastidores ou questionar algo que se mantem por tanto tempo e com a visibilidade que têm.
Um outro olhar sobre a quantidade é o fomento e a grande festa do Teatro Brasileiro. E como diz o ditado: "time que esta ganhando não se mexe".


Foi destaque o Grupo tibanaré de Cuiabá no "Espetáculo Porto" contando sua história e danças na concepção do livro "Porto" da poeta Luciene Carvalho e Rômulo Fraga. Usando instrumentos originais de sua região; a viola de cocho, ganzá chamado de reco-reco, o tamboril. Com uma vontade e uma riqueza do Siriri e Cururu da cultura do Mato Grosso. Após a apresentação abriram espaço para opinões e foi pontuado pequenas deficiencias de luz.
Com certeza eles sairam deste festival com a lembrança de momentos bons, o intercambio, a viagem cultural e energizados para próximos trabalhos.
Este sim é o Fringe.

Enquanto alguns querem uma seleção elitizada para o festival como foi "A Mulher que Ri", cotada com uma das melhores, onde a diretora na coletiva repetiu pelo menos 20 vezes a palavra "memória", e em um determinado momento um jornalista fez uma pergunta e ela soltou esta: "a memória é simples de entender". Se ela estava argumentando a memória e depois desqualificou, era porque não tinha nada a dizer.
Em quase todas as falas na peça o ator pronunciava a palavra "mãe". A história era de um filho que estava entre ir embora ou ficar com os pais. O pai perdeu o emprego por ter aderido a uma greve. Que nem de longe lembrou a peça “Black-tie”. Teve um momento que sairam procurando uma moeda removendo tacos no chão, e foi muito esquisito. Acho que estavam fazendo menção catártica aos mendigos nas ruas. E para quem esta acostumado a ser interceptado por mendigos em desespero, fica uma grande diferença de atuação, de um ator que acabou de sair de um hotel com sua roupinha nova. E as falas longas do ator era trucada e de difícil compreenção. E peças com narrativas priorizadas, se sobressaindo a ação dramatizada, são de péssimo gosto. Dá a impressão que falta direção.

Se pelo menos fosse o Guilherme Leme da peça "O estrangeiro" embaixo de um forno de luz no palco. Porque se ele tivesse que fazer 5 apresentações naquela condição, com certeza, poderia mudar o nome para Guilherme Assado Leme. Senti, sentado nas primeiras filas, um calor que queimava minha pele. E para enxergar o ator tive que colocar uma proteção dividindo o ator com a luz em questão. Era muito forte e o ator deve ter sentido a sensação do inferno no palco.

Brincadeiras a parte, "O estrangeiro" foi surpreendente. Esperava um pouco menos do que no livro e agora me sinto na obrigação de ler de novo por perceber que não tinha percebido certos detalhes. Embora, uma amiga jornalista ficou com a sensação de um "nem daí para nada" do personagem como destaque, não dando a dimensão de Albert Camus proporcionou no livro.

A peça muito bem dirigida, pela diretora Paranaense Vera Holtz, e com certeza marcou o Festival de Curitiba 2.009.