domingo, 5 de abril de 2009




E prazeroso perceber que grupos de teatro resolveram se unir em torno de um bem comum. Lutar por um lugar ao sol mais digno. Nada que não seja uma coincidência, que tudo faz sentido num momento que exige a ação. E alguns que reclamam que 300 peças num festival não esta suprindo na qualidade é porque um todo cultural brasileiro esta defasado. Um sistema que Foucault alerta e estudiosos já constataram a superficialidade do que temos como meta para nossas vidas.
.
No Brasil se define como centro cultural o Rio de Janeiro, onde os artistas do passado só poderiam ter sucesso se fixassem moradia por lá. Até uns tempos atrás houve uma movimentação por uma interiorização, constatado que havia um grande abismo fora do eixo. E certas características ficaram bem claras com o fim da avalanche de empresários musicais diante de uma nova ordem tecnológica, e agora a disparidade no teatro dos globais que consomem a maioria dos recursos do governo para se manterem. Basta ver que a presença do Rio de Janeiro no Festival é ínfimo e que só aparecem se as apresentações acontecerem no Teatro Guaira, como foi a criticada peça do Albert Camus, “O Calígula” com o Thiago Lacerda.

Os movimentos servem para buscar uma nova ordem de igualdade e oportunidades sem ter uma ditadura das oportunidades. O Brasil esta mudando e a nova ordem mundial já não aceita a truculência de valores medíocres. O ministro da Cultura atual não estaria mexendo em algo se não houvesse a suspeita de que alguma coisa esta precisando ser mudada. E o Rio de Janeiro com sua globo não pode ser o eixo de um povo com o território que temos. Existe um Sul produtivo. Um nordeste criativo e um interior brasileiro intenso na busca de sua identidade. E os recursos da cultura têm que ser democratizado, deixando de ser propriedade das grandes empresas aliadas no eixo, que faz a discriminação cultural.

E cada um de nós temos que ser mais atentos as disparidades nas estatísticas porque o sonho de ser um artista de sucesso já não tem os mesmos caminhos de antes. E em quanto você esta preparando um projeto bonito que coloca toda a sua vida em perspectivas, com certeza terá alguns que apresentam projetos frios sem expectativas e repetitivos e conseguem aprovar por já ter a chave da porta dos recursos. Precisamos reivindicar novos modelos como estes; em que políticos não podem fazer suas campanhas de compras de votos através de métodos chulos, e agora eles tem que ter uma presença mais atuante no convívio do povo com projetos para garantir os seus votos.
.
O Brasil esta mudando no econômico e existe uma tendência de mudar no cultural com uma presença mais ativa. O que não podemos deixar é de trabalhar para que isto venha a acontecer. E para isto é necessário os movimentos e apontar as insatisfações. Porque o pequeno artista é o que mais sofre com as discriminações e o Sul é o menos lembrado nas distribuições de recursos diante do potencial econômico que ele é. E provavelmente, com esta abertura do festival, vamos ter 300 peças muito mais estruturadas satisfazendo o paladar curitibano, acabando com esta elite entre os que podem e aqueles que não podem porque os que podem não deixam margem generosa para uma dignidade.

E não ache que você é um sortudo que vai cair de paraquedas num harém. Você é um soldado que precisa ter muito a idéia clara de sua própria dignidade que deve ser respeitada, e não comprar o sonho ilusório. Os tempos mudaram e o Brasil é outro com a conscientização que não somos diferentes destes que arrotam poder. Já é possível produzir com qualidade em qualquer canto do Brasil, bastando derrubar este reinado absoluto com suas mediocridades.

Quantos grupos já entraram com projeto na Lei Rouanet em Curitiba? São raros. Isto porque mesmo entrando é quase impossível de captar devido a falta de estrutura que comporte uma parceria com as grandes empresas. E assim a cultura fica fadado a uma burguesia que sabe fazer uso destes recursos. É uma lei de cima para baixo levando em consideração o olhar do historiador Thompson.

No estado do Paraná a situação é mais grave, quando pensar que outros estados têm suas leis de fomento a cultura, e que são muito utilizados pelos artistas. Um reflexo disto é pensar a quantidade de grupos do interior do Paraná que participam do Festival de Teatro de Curitiba. E se chega a uma estatística de presença zero. Não tem municípios participando do Fringe. O problema esta na cara, e pelo jeito não há nenhuma vontade política para que esta estatística mude.

São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e outros estão no Festival porque é possível ver as logomarcas. Será que não temos um problema de interiorização da cultura no Paraná? Tenho certeza que sim, basta ver as estatística de participação. Espero que os políticos vejam e não sejam corruptos como os de Minas Gerais.

Nenhum comentário: