sábado, 18 de abril de 2009

Suprimindo o tempo na sua longa duração: e nada mudou.




Duas coisas me deixaram abismado esta semana. Uma delas foi uma conversa no borracheiro, onde um boy escolhia uns pneus destes que são frisados de novo e tem uma segunda chance nos asfaltos da vida. O assunto dele é as escapatórias nas blitz policiais, com o borracheiro dizendo que nunca ia tirar a carteira de motorista. Perguntei ao Boy, e ele disse que também não iria tirar a carteira, e caso fosse pego pagaria a multa e pronto. É a primeira vez que vejo em atacado alguém que não esteja disposto a esta imposição da lei. E concluo que o mundo esta virando de cabeça para baixo.

Isto é culpa deste governo democrático que cada vez fica evidente que qualquer estrutura possível para dignidade dos cidadãos está próximo de uma anarquia no bom sentido. Onde não faz sentido um governo sendo que se pode gerir qualquer estância com contratos. Todos sabem que um vereador entra para dar nomes em ruas e um prefeito para cumprir uma meta financeira, coisa que um gerente pode fazer e ser mandando embora caso não cumpra as metas. Enquanto isto só vemos a podridão no poder sem condições de fazer nada.


É difícil esta condição de perceber que existe o mal, sendo que poderíamos assimiliar noções muito mais evoluídas. Basta lembrar que o chipanzé é um animal social e que quando quer fazer amizade ele bate no inimigo do pretenso amigo. Um jogo do tipo sou teu amigo e te defendo dos teus inimigos. E não vamos longe quando assistimos os Estados Unidos sendo inimigo de países para se posicionar como amigos de um conjunto de paises ideologicamente ligados nas mesmas crenças e capitalista "democráticas". Como pensar o ser humano como evoluído se ele não passou da política do chipanzé?

Quero escrever comentários sobre peças que assisti no festival, que pretendo fazer com tempo. E é bem provável que se espere alguma coisa próximo de um elogio, na tentativa de massagear o ego. E como crítico, que quero ser, a vontade é dizer o que realmente vejo e fomentar uma mudança para numa próxima apresentação possa assistir e me deliciar com uma arte plena de beleza.
Não considero que se tenha trabalhos ruins, e sim que esta em processo para algo melhor. Ninguém monta um trabalho para menos, e sim, querendo subir os degraus do respeito.
Existem trabalhos bons e existem aqueles que vão chegar a ser bons. E se não conseguiram é porque não tiveram a oportunidade, ainda. E isto esta muito ligado aos textos que já falei anteriormente, que é a falta de uma base política cultural que esta muito acima da compreensão do artista na sua dignidade.

Há sim, variações percebida em canais de atuação. Como por exemplo; o mito do poder cultural no Brasil que passa pela Globo. Um ator, hoje, fora do eixo é acomodado por sua falta de meios de uma aproximação das novelas. Enquanto um ator no Rio de Janeiro que não teve a oportunidade de estar consistente na programação, se sente, no fundo da sua alma, um pouco menos. É um complexo mal-estar que chega as vias da dupla personalidade, quando este já teve oportunidade e tem seu nome nas revistas sensacionalista, e, encontram um fã na rua e ficam sem saber que atitude tomar, se de um artista de sucesso ou o ser natural que come, bebe e dorme como todos. O pior é aquele que fez novela, um dia.

Depende muito do olhar do ator com sua arte, não generalizando o artista carioca como foi na peça “Relações – Peça Quase Romântica” onde mostraram algo peculiar. Os atores tinham uma igualdade de presença de palco, com segurança e desempenho apropriado para a arte. Em alguns momentos subestimaram o texto confiando muito nas suas habilidades e com isto deixando um vazio. E como falaram, é teatro experimental. Principalmente na cena do telefone com dois personagens e um ator. Na imposição do personagem a uma suposta transformação médica. São experimentações que chegam ao limite se tratando de estar apresentando no Mini Guaira que torna qualquer apresentação um pouco menos do que ela é.

O “Relações – Peça Quase Romântica” não deixa de ser um espetáculo com humor refinado e com boa atuação. Os atores têm a capacidade de peripécias que extrapolam e mostram méritos de formação; como voz, presença de palco e alguns gestos sublimes que impressionam. Mas no contexto total ainda ficou uma divida a ser paga, e provavelmente nas próximas apresentações o público será recompensado por uma apresentação perfeita. Demonstraram que o efeito Globo não esta presente nas suas vidas, coisa que é normal perceber no artista carioca. Deve ser uma convicção que a arte do Teatro é ainda maior e o artista não tem que se submeter.
Um espetáculo de recortes em esquetes para uma noite de comemoração de uma vida feliz, proporcionada por atores preparados para proporcionar um sorriso ou inúmeras gargalhadas. Depende muito do humor do freguês.

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Faz alguns anos que escrevi este texto. Penso que não escrevia neste formato atualmente. Sou meio convencido e sempre penso que posso chegar um pouco mais. O "aí fora" ganhou novos olhares e traquejo na língua, que ficou mais afiada e assassina com um formato sútil, talvez. Este texto tem um mérito que chama a atenção. É o texto com maior quantidade de acessos. Ele têm uma coisa ácida que penetra o consciente coletivo que deixa a vontade de que poderia falar mais sobre estas coisas. Umas peripécias dentro das relações sociais, que se desvendam. São modelos que chamam a atenção na circularidade da estrutura social, infelizmente pobre. Mas, utópico contemplativo de Lévis-Strauss. Os nossos Brásis.

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