segunda-feira, 25 de maio de 2015

Apropriações Teatrais



Existem certas apropriações que agridem e são tratadas como simples metáforas para se dizer alguma coisa. Sem se ater ao desvio que ela possa causar e danificando o significado das coisas. Num estafe de conhecimento um doutor para ilustrar o seu apreço pela democracia colocou que os gregos se manifestavam durante as tragédia e com isto o Platão ficou avesso ao teatro. Claro que ele odiava os sofistas e até tinha a iniciativa de uma ágora pulsante. Não sei até que ponto as duas coisas se misturam. Só que a afirmação que liga a tragédia a democracia pode sair cara por um comportamento ou uma episteme que não são da mesma abrangência. Existia todo um aparato político sendo que tais empreendimentos eram patrocinados. Só que as tragédias tinham uma elevação que se aproximava dos deuses. Certo que certos deuses se humanizaram. E se as tragédias se tornaram uma convulsão de críticas e interferências acabam não batendo com as características de um ator aceitando o seu papel ameaçado nos palcos. Se isto aconteceu com certeza foi o final do teatro. E não é isto que vemos no fazer desta arte. 

Os modos contemporâneos que se assemelham a tais condições no teatro podem dar aberturas para um público se manifestar. Mas mesmo assim com seus limites. Podendo ser um teatro como Bertold Brecht de um eterna discussão política que se insere no tempo presente sem se perder dela e até épico. Queira o não ela continua sendo um forma das quatro paredes intuitiva. Uma forma de ver a vida espelhada e refletida. Esperar que este espelho que misture é um pouco demais. As tragédias ganham um teor enigmática e um vulto de vida própria intocável. Ela chama um auditório que se resigna diante dos fatos que transcendem a compreensão e delimita os atos humanos. O espelho não serve só para se maquiar. 

A grande diferença dos nossos teóricos é que não se envolvem numa vida prática já que os tempos experimentais são fontes de novas filosofias. Repetem-se em espelhos metafísicos já propagados seu fim. E muitas vezes falam coisas sem o grau epistêmico necessário. O teatro não é tão aberto ao ponto de colocar a democracia como sua origem. Ele se afunda em poços interiorizados numa singularidade avesso ao absoluto. Até como arte intuitiva se chega a uma obra com o belo. Mas colocar o teatro a serviço da democracia acabou forçando demais. Pode ser até que tenha exemplos para se mudar o sentido das coisas. Que é bem difícil. Já sei que vão me dizer que o teatro arena era por uma democracia. Só o que ninguém fala é que Jean-Jacques Rousseau colocava a democracia para um grupo de habitantes pequeno. E se te falarem que estamos numa democracia, desconfie.


Nenhum comentário: