domingo, 5 de julho de 2015

Ator Pós-Dramático



Existe um complexo no meio teatral atingindo em cheio os atores como se fosse um modelo escravista pela sujeição deste artista carregando uma cruz. Os tempos modernos caracterizaram este personagem com um coitado em sua comunidade. Uma alienação moderna que tirou o princípio de herói dele no teatro. E para piorar a situação os tempos mudaram. Mas não mudaram o humano que continua tendo medo, dor, piedade e muitas guerras como sempre existiram. Então o humano não mudou e nem transcendeu ou se tornou alguém melhor como Kant errou no que presumiu que seria o homem. Somos seres estaquinados e não é as tecnologias com os confortos que nos fazem melhores. Precisamos cuidar do mundo senão vamos acabar com ele. Quer dizer, acabar com a terra. 

Nos anos 30 o Francis Fergusson já presenciava uma mudança no meio teatral nos Estados Unidos com uma baixa nas platéias. Num momento que a televisão e o cinema não se fazia presente. E isto gerou a necessidade de mudança e com todas as transformações posteriores. Colocou o teatro no dilema de algo além de necessário deveria ser feito nas mãos dos salvadores do mundo. A dinâmica teatral recebeu um dom patológico diante de uma desenvoltura política econômica com tom de moderno e de desenvolvimento técnico que não lhe coube assimilar. Junto com a filosofia dicotômica do século das luzes gregas veio o vírus para infectar o corpo frágil com a idéia do simulacro dos tempos de Alice. Colocam que estamos em tempos tão modernos que precisamos mudar a imagem esquecendo do corpo humano. É claro que eles vão falar que isto é ao contrário num discurso moderno alienado. O corpo humano sempre foi um abacaxi na filosofia da história e realmente ganhou uma ênfase no moderno.

Mas o impressionante é o efeito sobre o ator de tudo isto. Jogam um microfone ou alguma tecnologia nas mãos do ator e agora ele pode fazer o pós dramático. Não pode ser uma ação. Não sabem se usam o texto ou não. Se te cortam no palco e teu sangue escorre no chão é este sangue que é a grande vedete. O ator virou um nada, apenas uma marionete. E isto não se encaixa apenas no palco. Quando o ator é visto fazendo um trabalho deste ele se desvaloriza na sua comunidade por se encaixar em algo que é o nada. O encenador usa o ator como um objeto sem valor. Quando este podia ser só uma proposta de cena e não todo um discurso religioso sobre o teatro. 

Exigem do ator que ele saiba o que é presenciabilidade, representabilidade e auto representabilidade. A referência mudou e não deixam claro o sentido. O Matteo Bonfitto no texto Pós-Dramático fala de um "ajuste semântico" quando Aristóteles fala que o humano é o mais imitador de todos os animais. Criaram uma atmosfera totalmente desfavorável ao ator que sobe num palco e se sente sozinho numa proposta de que ele não pode ser o humano de Aristóteles. Para combater o Aristóteles tem que começar a mudar a lógica dele. E não o ator. Existem epistemes a serem delineadas e não uma ruptura abrupta de um modismo avassalador. E o ator para ser alguém compreensivo hoje tem que passar por tal resignação. Arte é arte e não este jogo desleal que escraviza o artista a ditaduras do simulacro. Se os tempos fosse de simulacro como Platão desvendou a 2.500 anos não existiria Angelina Jolie e Beatriz Segall. A solução é a metafisica mesmo e nem tudo é transformação.    

Uma boa proposta de cena com o improviso do ator junto com a elaboração do encenador é algo gratificante. O que não dá é o todo ser algo massificante e chato. O Lehmann citou nomes como o Robert Wilson como os pós dramáticos que não usavam os clássicos e de repente o Robert Wilson começou a encenar os clássicos. Li isto não sei aonde. Mas não parece ser uma mentira. O teatro não pode ser uma mentira. Uma risada que não é espontânea não é uma risada. Precisa do ator. Ou não é para ser risada? Defina-se por favor. 



Nenhum comentário: