terça-feira, 28 de julho de 2015

Trágico Contemporâneo



Hoje no jornal do esporte passou uma garota que fez um lindo salto ornamental no campeonato na Rússia que vale para as olimpíadas. Todos fazendo bonito. Mas o salto principal depois de ter feito bonito foi destes que a gente dá na piscina com gosto. O mais engraçado foi o repórter dando um close no técnico dela olhando para o vácuo sem entender e ele comentando este olhar. A nota do salto foi zero. Hilário. 

Tudo na nossa vida passa por um palco. Eu não saberia traduzir isto como ele pode ser visto para a cena. Será que uma performance? Uma tragédia contemporânea de um instante da mergulhadora que resolveu fazer diferente. Embora muitos achem que com a modernidade a tragédia clássica deixou de existir. Aquela tragédia com o sofrimento e um acontecimento existencial com parâmetros de um absurdo acontecendo na vida. 

Resolveram repudiar a ação da tragédia como se ela fosse a imitação como Platão visualizava. Só que Aristóteles transcendeu o seu mestre quando percebeu que não se tratava de uma imitação e sim de uma tentativa criativa de ação sem ser o rigor no movimento. O engraçado é que muitos atores pensam no rigor de uma cena que as vezes constatam em um laboratório. Que na real eles devem trabalhar a criatividade e não a imitação. O trabalho do ator diante do diretor nem sempre é moldado. É claro que existe toda uma marcação a ser feita. Mas já se sabe que toda apresentação nunca vai ser igual a anterior. Então ele ganha uma compreensão criativa sendo que ele é que molda a caracterização. Aristóteles foi muito generosos neste aspecto de pensar a ação aderente a ficção já que o fenômeno não se explica na sua totalidade. De certa maneira ele absorve o Platão no seu simulacro dando uma alternativa de coesão de uma construção no devir. 

Não adianta falar que a tragédia deixou de existir sendo que ele se comporta como ontológico no rol de nosso ser. Basta ver aquele caso Isabela Nardoni que o povo enchia a rua na frente do prédio como um auditório sedento mesmo que a cena já tivesse acontecido. Existe uma linha de seção da tarde  na tv toda voltada para os acontecimentos trágicos urbanos em forma de absurdos acontecendo. Não adianta dizer que o teatro se moldou ao científico do conforto de um refinamento nas ações no modismo moderno do luxo. As tecnologias com a estrutura capital vem perdendo o seu vigor e provavelmente vão lembrar das tragédias inexoráveis diante da serenidade da vida na natureza em ciclos de ato e potência. Tudo pode mudar. A ação não, e é isto que faz a chama se acender nos palcos com a cena acontecendo. Um auditório fiel dos acontecimentos do nosso mundo.  

Medeia da Escola Macunaíma no Festival de Teatro de Curitiba



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